Eu pensei isso hoje #1
reflexões sobre o agora — pra lembrar que somos gente antes de sermos máquina
“Eu pensei isso hoje” é uma crônica escrita sem pressa, sempre às sextas.
Não segue uma estrutura. Não traz fórmulas.
É um pensamento atravessado por algo que vi, vivi ou observei —
e que talvez também esteja passando por você.
A ideia é simples: fazer uma pausa no meio do caos e lembrar do que (ainda) importa.
Outro dia alguém me perguntou:
— O que você acha que a gente deveria estar estudando agora?
E eu travei.
Porque, se for olhar o mercado, tem lista pra tudo: prompt engineering, coding em no-code, soft skills, ferramentas de IA, MBA de futuro.
Se for olhar o Instagram, parece que todo mundo já aprendeu o que eu nem comecei.
E se for olhar pra dentro… tem uma parte de mim que só queria aprender a respirar com calma de novo.
Estamos vivendo um momento em que tudo muda — o tempo todo.
A gente fala de disrupção com a naturalidade de quem pede café coado.
Mas ninguém fala muito do que ela causa: o medo de ficar pra trás, a dúvida sobre quem ser quando tudo ao redor muda, a culpa de não conseguir acompanhar.
O que me assusta não é a inteligência artificial.
É a nossa pressa em parecer inteligentes o tempo todo.
Tem dias em que sinto que o mercado virou uma vitrine de gente ansiosa tentando se provar relevante.
E, no fundo, a pergunta que eu carrego não é “qual a próxima habilidade que preciso aprender?”.
É: como não esquecer de ser humana no meio disso tudo?
Porque a tecnologia vai seguir evoluindo — isso é fato.
Mas o que será de nós se esquecermos como se olha no olho?
Se não soubermos mais como escutar alguém com tempo?
Se perdermos o hábito de estar com o outro sem uma aba aberta ao fundo?
Ser humano talvez seja a habilidade mais subestimada dessa década.
E ser humano dá trabalho.
Requer silêncio, escuta, limites.
Requer saber dizer não pra uma notificação e sim pra uma conversa.
Requer cuidar da saúde mental, da família que não entende nada de IA, da criança que está crescendo com mais filtro do que chão.
E aqui, talvez, esteja o real desafio dessa era:
não é só saber operar a máquina — é não virar uma.
Talvez o que a gente devesse estar estudando agora fosse como desacelerar com dignidade.
Como preservar vínculos num tempo em que tudo quer virar dado.
Como proteger o que é sensível, quando tudo nos empurra pra ser performático.
Não é que eu não goste da tecnologia. Eu amo.
Mas ela é ferramenta. Nunca destino.
E hoje, só hoje, eu pensei que a nossa missão pode ser bem mais bonita do que aprender a lidar com o novo.
Talvez seja aprender a não esquecer do essencial.
☕
Amanda Graciano
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