Eu pensei isso hoje #6 — O recheio das conversas
Nem tudo cabe num post — e ainda bem.
Essa semana foi cheia de encontros.
Não estou falando dos encontros protocolares, dos que a gente aceita por educação ou se arrasta porque “é importante aparecer”. Falo de encontros de verdade. Daqueles que começam com um “como você tá?” e não têm hora pra terminar. Encontros com presença, com troca, com aquele silêncio bom entre uma frase e outra, quando ninguém precisa preencher espaço com barulho.
Teve gente que eu admiro. Gente que eu acompanho de longe há tempos e, dessa vez, chegou perto. E quando chega perto, a gente vê: a imagem bonita até é parte, mas nunca é tudo. O que me tocou foi o que apareceu depois do cartão de visitas, da bio bem escrita, do discurso ensaiado. Foi o gesto, o olhar, a história contada com vulnerabilidade. Foi o riso fora de hora, a pausa pra pensar, o "não sei" dito sem vergonha.
Essas conversas me fizeram lembrar de algo simples, mas que anda meio esquecido: ninguém é só o que mostra.
No entanto, o mundo insiste em nos convencer do contrário. A gente abre a internet e lá está: um show de opiniões instantâneas, certezas absolutas, diagnósticos emocionais baseados em 15 segundos de vídeo. Um frame, uma frase solta, e pronto — já tem gente jurando que te conhece.
E é assustador o quanto isso se espalha. A gente vira personagem de histórias que não escreveu. Se vê reagindo a julgamentos sobre versões nossas que nem reconhecemos. Às vezes, é só um ruído — uma palavra atravessada, um olhar mal interpretado — e alguém já definiu quem você é, o que pensa, como sente.
Tem dias que tudo isso cansa. Cansa ser lida por olhos apressados. Cansa explicar o óbvio. Cansa existir num mundo que prefere imagens do que nuances, manchetes do que conversas, ruído do que escuta.
Mas aí vêm esses encontros. E eu lembro: ainda dá pra ser mais que isso.
Ainda dá pra conversar com calma. Ainda dá pra ouvir com o corpo inteiro. Ainda dá pra trocar sem a pressa de performar. Ainda dá pra ser... sem legenda.
E é por isso que eu escrevo. Pra lembrar — e me lembrar — que a vida verdadeira vive no entre. Entre uma pausa e outra. Entre o que é dito e o que é sentido. Entre quem achamos que o outro é e quem ele se revela quando não precisa provar nada.
Todo mundo tem imagem. Mas nem todo mundo tem recheio. E no fim do dia, é o recheio que alimenta. Que sustenta. Que importa.
Com quem você tem conseguido conversar de verdade?
Até a próxima semana!
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E se quiser, me escreve. Me conta o que tem atravessado você também.
A Antes do Café é uma pausa semanal pra quem não quer viver no automático. Aqui a gente fala de tecnologia, futuro, rotina, sentimentos e tudo que move o que a gente é — pra além do que a gente faz.
Até a próxima xícara. ☕